Obesidade na Adolescência : a realidade brasileira

A imagem corporal é o cartão de visita do indivíduo. Principalmente na adolescência, onde a aparência corporal determina a aceitação no grupo, ou não. Isto ocorre numa fase em que a necessidade de ser bem visto e aceito é vital para o desenvolvimento da personalidade.

Adolescentes, segundo a Organização Mundial de Saúde, são pessoas com idade entre 10 e 19 anos e representam 20% da população global. Cerca de 84% dos adolescentes estão em países em desenvolvimento. E apesar de sua porcentagem em relação a outros grupos etários estar aumentando, pouca atenção tem sido dada à sua nutrição. Nos Estados Unidos, em apenas quatro anos, entre 1988 e 1991, a prevalência de obesidade na adolescência aumentou 6%.

Obesidade na adolescência está associada a vários problemas, sendo mais prevalentes, as conseqüências deletérias na área psicossocial e a persistência de obesidade na idade adulta, acompanhada de suas comorbidades. Alguns estudos revelam que 50% das crianças obesas aos 6 meses de vida e 80% daquelas aos 5 anos, serão sempre obesas. Um adolescente obeso tem mais de 70% de vir a ser um adulto obeso.

Em nosso país, onde a obesidade está aumentando em todas as faixas etárias, temos por outro lado, constatado a diminuição da subnutrição, caracterizada por baixo peso, pequena altura das crianças e baixa estatura dos adultos.

Em 1975 tínhamos, no Brasil, um pouco mais de 8% de crianças e adolescentes subnutridos e cerca de metade, 4%, de obesos. Esse quadro se inverteu e atualmente os dados apontam para 9% de obesidade e só 3% de subnutridos.

Quanto à prevalência de obesidade e sobrepeso na adolescência, alguns estudos populacionais revelam o seguinte:

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Belo Horizonte 1993 - 7,8% de adolescentes obesos ou com sobrepeso.
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Belo Horizonte 1998 - 8,5% de adolescentes obesos ou com sobrepeso.
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Curitiba 1996 - 15,6% de adolescentes obesos ou com sobrepeso.
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Rio de Janeiro 1999 - 12,2% de adolescentes obesos ou com sobrepeso.
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Florianópolis 1999 - 22,3 % de adolescentes obesos ou com sobrepeso.

O artigo recentemente publicado no International Journal of Obesity, por Neutzling e colaboradores, descreve a prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes brasileiros (média de 7,7%) a partir de uma subdivisão da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), com uma amostra de 13.715 indivíduos. Na tabela são apresentados dados resumidos com variáveis demográficas e sócio-econômicas.

VARIÁVEL

SEXO MASCULINO
(n=6.935), %

SEXO FEMININO
(n=6.780), %

RENDA FAMILIAR:
Baixa
Média
Alta


2,8
5,2
14,4


8,4
11,7
17,2

ESCOLARIDADE
Inadequada
Adequada


3,2
10,0


10,4
11,2

DOMICÍLIO NA REGIÃO
Nordeste
Norte
Centro-Oeste
Sudeste
Sul


2,3
4,9
5,1
5,4
7,1


6,8
10,1
10,8
12,9
13,9

DOMICÍLIO NA ZONA
Rural
Urbana


2,9
6,4


9,7
11,3

IDADE (anos)
10-14
15-19


5,8
3,6


9,6
11,9


Nota-se um risco duas vezes maior de obesidade em meninas em relação a meninos adolescentes, o que pode ser explicado por um maior armazenamento de tecido adiposo nas meninas durante o estirão puberal, enquanto que meninos costumam perder gordura nessa fase.

Estudos europeus mostraram uma redução da atividade física durante a adolescência, principalmente em meninas. Outra explicação, mais voltada para o nosso ambiente (Brasil), seria que em níveis sócio-econômicos mais baixos os meninos exerceriam mais trabalhos de força muscular.

Além disso, meninos brasileiros teriam maior acesso a atividades esportivas e nas horas de lazer (futebol), considerado inadequada para meninas. Também é notável que a prevalência de obesidade em ambos os sexos aumenta proporcionalmente à urbanização e industrialização da região e ao nível sócio-econômico, devido provavelmente ao ambiente obesogênico da vida moderna nas cidades.

Sabemos que a adolescência é uma fase da vida cercada de conflitos e mudanças, o adolescente vive cercado de dúvidas e transformações. Temos a turbulenta passagem da infância para a vida adulta. A obesidade entra aqui como uma complicação bastante freqüente, como pudemos demonstrar.

Somente com a realização de mais amplos estudos sobre esse tema e a implementação de programas de saúde pública com poder de modificar a realidade alimentar e de estilo de vida da comunidade, poderemos prevenir e modificar a obesidade e sobre peso nos adolescentes brasileiros.


 

* Dr. Nataniel Viuniski é Pediatra, especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria, membro da ABESO, Associação Brasileira de Estudo da Obesidade, atua na área de Obesidade Infantil em Caxias do Sul e Nova Petrópolis- RS e é autor do livro Obesidade Infantil- Um Guia Prático, disponível pelo e mail : natan@royalnet.com.br

Fontes Bibliográficas :

1 - Lamounier, Joel, Situação da Obesidade na Adolescência no Brasil - 2000.
2 - Mancini, Márcio, Revista da Abeso - 2000.
3 - Neutzling e col, International Journal of Obesity - 2000
4 - Viuniski, Nataniel, Obesidade Infantil - Ed. EPUB - 2000.